Doutor é quem tem um doutorado? E quanto ao PhD e pós-doutorado?

Vamos explorar brevemente os títulos acadêmicos e sua relação com o status na sociedade

Quem é fã da série Friends vai se lembrar da cena em que Ross Geller escreve seu próprio nome em uma etiqueta de identificação. Na verdade, uma etiqueta não foi suficiente para o Dr. Geller, ele precisou adicionar outra com o nome "Ross" logo abaixo. O personagem tem um doutorado em Arqueologia e trabalha como professor em uma universidade em Nova Iorque.

Originalmente, a palavra "doutor" vem do Latim "docere" e está relacionada à docência. Este é um título conferido a acadêmicos desde o século X e, na maioria dos sistemas de ensino, é o grau acadêmico mais elevado que se pode obter. Para isso, é necessário cursar um doutorado e demonstrar domínio em um campo específico de conhecimento.

Estima-se que aproximadamente 1% da população mundial possua esse título, o que equivale a 21.000 pessoas no Brasil. Então, as pessoas com título de doutor no país representam menos de um terço da capacidade do estádio do Maracanã. Mas por que parece haver muito mais do que isso?

Tradicionalmente, o tratamento de "doutor" também é estendido a médicos e advogados. Essa prática teve início no Brasil Colônia, quando a formação em ensino superior ocorria principalmente em países europeus. Naquela época, o título era conferido àqueles que completavam cursos de pós-graduação em universidades europeias. Em 1827, uma lei promulgada por Dom Pedro I concedeu o título de doutor aos formados em Ciências Jurídicas e Sociais no Brasil.

Embora a lei tenha ficado no passado, o costume persistiu e se expandiu. Devido ao prestígio associado ao termo, aqueles que se formaram em medicina também passaram a receber o tratamento de doutor. E esse costume não é exclusivo do Brasil; desde o século XVII, na Escócia, o tratamento de "doutor" é utilizado para médicos.

No exterior, no entanto, o sistema de ensino é diferente do brasileiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, os estudantes obtêm um diploma de graduação antes de cursar créditos complementares para a faculdade de medicina ou direito. Em ambas as profissões é necessário cursar um programa de pós-graduação para se tornar um profissional habilitado. Nos Estados Unidos, faz-se uma distinção entre médicos e outros doutores. É comum usar o termo "Medical Doctor" (médico) para se referir a esses profissionais.

Atualmente, o tratamento de doutor também é estendido a outros profissionais da área da saúde, tanto no Brasil quanto no exterior. Dentistas, fisioterapeutas, psicólogos e outros começaram a usar o prefixo Dr. em seus jalecos. No entanto, não existe uma determinação legal para esse tratamento, e o termo ainda é relativo àqueles que possuem um diploma de doutorado.

E quanto aos PhDs? Bem, todos se lembram quando Gil, do Big Brother Brasil, foi cursar seu PhD na Universidade da Califórnia. Depois de completar a graduação e o mestrado em Economia na Universidade Federal de Pernambuco, ele iniciou um doutorado na mesma instituição em 2019, mas interrompeu para participar do BBB e, em seguida, partiu para seu PhD nos EUA.

Na época, muitas pessoas confundiram o PhD como um título superior ao doutorado. Essa é uma confusão comum no Brasil, até mesmo no meio acadêmico. Na verdade, PhD é a sigla para "Doctor of Philosophy" (Doutor em Filosofia). E não, não é um título concedido apenas a pós-graduados em Filosofia. Com base na origem grega da palavra "filosofia", o título representa alguém com "amor pelo conhecimento". O termo surgiu na Alemanha, no século XVII, e até hoje é utilizado para conferir o título de doutor em diversas áreas científicas.

Portanto, "PhD" nada mais é do que "doutor" em outro idioma. Quanto ao pós-doutorado, isso sim é outra coisa. É comum que pesquisadores sejam contratados para ocupar essas posições após a conclusão do doutorado. Embora não confira um título, já que o doutorado é o mais alto grau acadêmico que se pode obter, o pós-doutorado representa uma posição de destaque na carreira devido ao nível de expertise dos pesquisadores.

Apesar da relação social entre os títulos acadêmicos e o prestígio social, o respeito às pessoas, seja no cotidiano ou no ambiente de trabalho, vai além de pronomes de tratamento. Insistir em referir-se aos títulos acadêmicos apenas cria um distanciamento entre as pessoas. Muitos profissionais ainda fazem essa associação em busca de respeito, mas em vez de garantir direitos e uma maior valorização de sua profissão na sociedade, eles apenas contribuem para o imaginário obtuso do doutor e se distanciam cada vez mais da população.

Em Friends, é quase caricato como Ross Geller representa esses profissionais que insistem em utilizar esse tratamento fora do ambiente acadêmico. Em uma cena, ele se apresenta como Dr. Geller em um hospital apenas para ser repreendido por sua amiga, Rachel, por não ser o tipo de doutor que lá esperavam.

No final das contas, tudo depende do contexto. Em ambientes acadêmicos e em empresas de pesquisa, especialmente em comunicações oficiais, associar o profissional ao seu título é o convencional. Afinal, é justamente nesses momentos em que estão fazendo uso direto da expertise adquirida com o título. Ademais, tratar as pessoas pelos tradicionais "senhor" ou "senhora" seria tão respeitoso quanto. Ou melhor ainda, perguntar como elas preferem ser tratadas.

Mas, respondendo à pergunta: sim, doutor é aquele que possui um doutorado. Vamos fazer o uso apropriado disso (SOUZA, J. L., 2023).

Referências